Eles estão entre nós
Nos anos 30, o Brasil abrigou o maior partido nazista fora da Alemanha, com membros ligados às comunidades de imigrantes e descendentes de alemães. Com a chegada da Segunda Guerra, no entanto, descobriu-se que muitos deles faziam parte de uma bem tramada rede de espionagem.
No dia 20 de abril de 1940, Adolf Hitler completava seus 51 anos. Para comemorar o aniversário do Führer, que nos dois meses seguintes dominaria Holanda, Bélgica e Dinamarca e, em junho, descansaria à sombra da torre Eiffel, em Paris, o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels preparou uma festa. Desde a manhã milhões de pessoas foram às ruas e curtiram o feriado ouvindo discursos inflamados ou seguindo desfiles nas principais cidades alemãs. Longe de sua terra natal, 456 alemães preferiram uma festa reservada, mas também animada. No salão social do Clube de Atiradores de Blumenau, em Santa Catarina, eles se reuniram para um almoço típico, brindaram e deram vivas a Hitler. Na véspera, os 815 alunos entre 7 e 15 anos da Escola Alemã da Vila Mariana, em São Paulo, chegaram às 7 da manhã, como todos os dias. Como todos os dias, saudaram a chegada dos professores em coro: "Heil, Hitler". Na mesma época, no Rio de Janeiro, uma enorme bandeira vermelha com a suástica preta podia ser vista hasteada, tremulando no alto do morro de Santa Tereza. A existência de simpatizantes nazistas no Brasil, nos anos 30 e 40, não é novidade. Porém, a partir de 1997, quando se tornaram públicos os arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social (Deops) do governo Getúlio Vargas, os pesquisadores não passam um dia sem descobrir algo novo e surpreendente sobre o nazismo no país. É o caso da historiadora Ana Maria Dietrich, professora da Universidade de São Paulo, que há anos pesquisa os milhares de documentos entre inquéritos, fotos, panfletos, depoimentos e relatórios do Deops, atualmente sob a guarda do Arquivo do Estado de São Paulo. Segundo Ana Maria, os documentos revelam um nível surpreendente de influência do nazismo na sociedade brasileira, detalhando não apenas atividades partidárias e de propaganda, mas de espionagem e fraudes, além da conivência, e até da simpatia, com que essa ideologia contou entre as autoridades brasileiras.
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